Porque Escrevo

Não escrevo porque me dá paz. Mas sim por ser meu fardo. É meu jeito de falar, de me expressar, de me comunicar. Quer me conhecer? Leia-me.

O único ser que conheço na face dessa Terra capaz de me compreender algo, ao longo dessa existência, conseguiu devido a esse feito considerável. Mas não foi nada obrigado ou arranjado. A questão é que o moço gostou do que viu. Ou melhor, do que leu. Quando contou que sabia dessa humilde página – saímos por semanas sem eu saber que ele conhecia o blog – me senti nua: exponho aqui o que penso, sinto, meus achismos, opiniões, etc e tals. Mas depois pensei melhor… Está mais que certo em ser assim! E fiquei muito feliz em saber que alguém gostava “de mim” (pois o blog é um pedacinho de mim) pelo que sou.

Caso eu dependesse da veracidade do ditado “quem tem boca vai a Roma”, nunca iria a essa sedutora cidade… Não possuo aptidão com fala. A não ser em forma de ironia ou sarcasmo, que seria “o humor dos arrogantes”, para Khaled Hosseini… Sarcasmo é o ácido corrosivo e ironia uma carapaça indestrutível que afastam tudo ao redor. Assim, ao abrir a boca, consigo repelir pessoas na velocidade da luz.

Às vezes sinto a garganta esquentar, coçar, minha boca formiga querendo falar algo, mas no fim eu não consigo. Posso até esboçar o que dizer, mas o discurso não flui como no texto: as palavras não correm para serem ditas como vem para a escrita, uma após a outra, em fileirinha… Ficam confusas na minha cabeça, dando voltas e voltas, e termino por não dizer nada.

A escrita não é um meio de comunicação, é minha via única e expressa para comunicar-me. Pensar em um texto e não poder escrevê-lo me dá vertigem. Colocá-lo pra fora é um suspiro, longo e feliz em meio a essa vida de soluços desesperados.

E no fim, é isso. Escrever é uma agonia, é uma idéia e é uma esperança. Ou também pode ser uma esperançosa idéia agonizante.

Fome

Em pé, na cozinha, à meia-noite, como dois pães de sal junto com uma xícara de chocolate quente. É uma fome que abarca tudo, pois ando comendo demais. Ou talvez seja apenas o reflexo da falta de apetite que tenho sofrido durante o dia. Estômago sensível. Eu também.

Minhas calças estão caindo mesmo, não faz mal. Houve uma época em que jamais faria isso, por medo de engordar. Hoje não tenho medo, primeiro porque já comprovei que perco peso mais facilmente do que ganho, segundo porque essa paranóia diminuiu consideravelmente, terceiro porque “les jours de gloire” dessa beleza comum já se foram.

Sei que é uma forma de preencher um vazio, o comer demais. E não, não tenho exagerado. Aliás, minhas dores de estômago – cada vez mais fortes, diga-se de passagem – não deixam. Um vazio que sinto, sobretudo durante o dia, quando represento perante as pessoas os papéis sociais que esperam que eu preencha em suas vidas. Não, você não entende. Ninguém entende.

Não sei se o pior passou, está por vir ou nem vislumbrei ainda. Eu sei é que as coisas voltaram a meio que fazer sentido pra mim, de um jeito aleatório – é complicado demais. E sei que voltei a sentir algumas coisas: ternura, amor, mágoa, tristeza e até mesmo o roçar leve do chapisco da esperança. Mas de tudo, o cansaço ainda impera soberanamente. Melhor dizendo, quase.

Meia-Noite em Paris me fez pensar em meu próprio modo de olhar a vida: como se a felicidade estivesse sempre fora de onde estou; aquele coelhinho que pula pra longe toda vez que tentamos alcançá-lo. Sei que devo procurar dentro de mim os motivos para ser feliz, mas todas as vezes que tentei, só fui capaz de encontrar foram razões para remorso, rejeição, culpa e dores sanguinárias bem tristes que não merecem ser contadas.

Eu tenho fome de felicidade.

“In The Real World…”

(Obs: Post Antigo)

Realmente perdi a noção do tempo… Fiquei pensando na última vez em que escrevi aqui e não sabia dizer se foi em julho ou agosto. Só tinha certeza de sentir que foi há uma eternidade. O tempo tem passado depressa demais para, em seguida, escorrer lentamente: não há tempo suficiente, mas sobra tempo inútil por aí.

Ontem revi “Almost Famous” pela 4ª, 5ª ou 6ª vez. Sempre com o mesmo frio na barriga de estar assistindo a um filme perfeito. Os “puristas”, óbvio, não concordam comigo… O dono da locadora, quando aluguei da primeira vez, disse que era o segundo melhor dos 3 que estava alugando aquele dia. Estava alugando “Hair” – o melhor, segundo ele -, “Almost Famous” (versão estendida) e “Rock Star”. Bom, nesse dia ele realmente venceu… Afinal de contas, um musical de 1979 falando sobre liberdade, amor, sexo, igualdade de valores, além da guerra do Vietnã, etc etc… obviamente me apeteceria.

Cada vez que assisto “Quase Famosos” sinto algo diferente. Sei que é uma frase bem clichê, mas clichês podem servir perfeitamente a algumas situações, preste atenção. Já fiquei inebriada com a história e quis fazer parte, viver naquela época, “quando os gigantes caminhavam sobre a terra”. Me senti realmente indignada por não poder fazer parte de tudo aquilo, estando no lugar errado, na hora errada. O fato é que apenas pensar nesse filme faz meu coração acelerar… Por quê?

Porque atribuí a ele um significado muito maior do que “apenas um filme”. Vivenciei sentimentos e me coloquei no lugar de diversos personagens, à medida em que ia amadurecendo e mudando ao longo do tempo. Nunca fui Penny Lane, antes que venha a pergunta. Não sou capaz de ser um terço do que ela foi. Do que significou. Do que permaneceu.

Por outro lado, pensei que, em vários momentos da minha vida, eu poderia ter sido uma “groupie”… William, ou “The Enemy”, também foi cogitado mas, se ele era “muito doce para o rock’n roll” de acordo com Penny Lane, eu, por outro lado, sou muito amarga para ser ele.

Até que ontem tudo se encaixou. E eu não percebi apenas porque não tinha observado bem ao meu redor para compreender… Anita. Eu sou Anita. Pela fome de liberdade, o inconformismo, a rebeldia atrelada à necessidade de se encaixar. A vontade de ficar e fugir, conhecer o mundo sem sair do lugar… A irmã de William é perfeita por ser simples: ninguém dá nada por ela, ela e a mãe não se entendem e ela acredita no potencial do irmão, mas segundo seu próprio ponto de vista.

Eu acredito mesmo que, se minha mãe fosse algum tipo de professora universitária, ela seria bastante daquele jeito, talvez não tão radical por conta da época e de sua história de vida. E minha irmã, bem, ela é “The Enemy”. Uma escritora aos 15 anos, doce, pensativa, observadora, romântica, “not cool” (segundo os padrões do filme) e que guarda muitas, muitas coisas para si mesma.

Por essas e outras, mais do que “Quase Famosos”, eu amo assistir filmes. Quando consigo ver neles as situações do mundo real, tenho certeza de que são bons e que me marcarão.

“It’s all happening…”

Mais sobre o filme em Blog dos Feras.