O Nome da Coisa

O que eu quero tem nome. Sempre teve. Mas minha cabeça via como uma maldição, daquelas de filme da Sessão da Tarde: se a gente falar em voz alta a coisa não acontece. Eu demorei muito a descobrir o que queria. Na verdade, em determinados assuntos ainda não sei. Exemplo: não sei se faço um concurso que paga bem, mas não tem a ver comigo ou se invisto na minha área sabendo que a chance de sucesso é mínima. Ah, a crise dos 25… Quem nunca?

Com relação à família, descobri bem o que quero. Descobri, aliás, que não quero. Não quero mais correr atrás, sofrer, criar expectativas. Cansei de lutar. Assumi meu papel, pus minha máscara e jogo o jogo dos que estão no comando.

Apesar de parecer o contrário, tenho o coração leve. Descobri que não sou tão pesada, tão triste, tão pessimista quanto me fizeram pensar. Descobri que ataco muito mais por defesa que por maldade, que ser ruim nunca fez parte dos meus planos e que “a dificuldade em lidar comigo” está, na maioria das vezes, nas pessoas que comigo se relacionam e não são capazes de pensar “fora da caixa”.

E, relutantemente, descobri que gosto de amar. Mas gosto ainda mais de ser amada… O que, na verdade, se resume em uma palavra que sempre abominei: romantismo. Sou romântica. Leio Neruda, escrevo em diários, tenho uma joaninha de pelúcia chamada Dóris, tenho memória olfativa aguçada, cozinho com prazer se estiver em boa companhia, sinto falta de calor humano nessas noites de inverno e nunca consigo me imaginar sozinha. Bora viajar? Só se estiver em boa companhia, com amigos queridos. Um vinho? Parece desperdiçado se aberto quando estou sozinha. Ser promovida? Muito melhor se tiver com quem dividir.

Descobri que não consigo ser individualista. Gosto e quero dividir tudo o que acontece comigo; talvez porque isso seja tão raro pra mim. Mas sinto ainda mais falta de quem possua interesse no que tenho para dividir. E é quando para pensar nisso que meu coração dói. Porque a verdade é triste, mas não é por ser triste que é menos verdadeira… Todo homem é uma ilha.

E nem adianta. Não dá pra dividir amor com quem se basta.

Achismo em Doses – I

Eu não sou flor. Nunca fui feita de pétalas ou de ar, minha fibra é mais palpável. Talvez, por isso, também bem mais sensível. Ao toque, ao olhar, a tudo o que me toque. Sou feita de um material diverso desses que existem por aí. Sinto isso com toda a minha existência. Não rio de tudo, não choro por qualquer coisa. Mas choro muito por nada e rio muito daquilo que ninguém acha graça. Discordo de nascença, desde antes de nascer. Me incomoda estar sob a lente do microscópio, sendo julgada, avaliada, cutucada. Quero liberdade, mesmo sem saber o que é liberdade. No fundo eu sei: a gente só é livre quando ama.

Amor. Palavra mais desconexa nesse mundo cão. O amor de hoje dói, é complicado, depende de dinheiro pra sobreviver. Amor de antigamente é que era bom. Sem pressa, sem medo, sem etapas. O amor é feito de etapas queimadas, que acabaram queimando o amor. O amor não existe; morreu faz muito tempo. O que restou dele foi essa dor que a gente insiste em nomear de amor.

 O amor não é romântico. Isso a humanidade inventou pra vender mais doces em forma de coração. Em forma de um coração que nem existe. O romantismo cria expectativas que destroem a pureza do amar. Romantizar é uma merda.

 Estar no mundo dói. Se sentir fora do lugar dói. Ser rejeitada dói. Amar dói. Não amar dói. Cabeça dói. Levantar cedo dói. Alongamento dói. Ouvir uma ofensa dói. Usar óculos apertado dói. Cometer um erro de português de forma consciente também dói.

 Eu sou feita de uma carne dura, porque o interior é mole. Mais mole que manteiga. A carapaça me protege e, ao proteger, afasta qualquer um que atente contra minha existência. Mesmo que o ataque seja feito de amor. Amor é arma poderosa, que fere mais que punhal nas costas da gente. Dentro de mim queima uma chama que me consome. Às vezes penso que é a esperança, às vezes sinto que é medo. Mas o combustível da chama que me queima viva é sempre o amor.

This is the End (?)

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Andei remoendo isso durante algum tempo, pensando em alternativas, buscando soluções. Porém, o fato é que foi somente isso que eu fiz. E, justamente por isso, decidi “desativar” o blog. Não vou excluí-lo ou nada parecido, mas temos de encarar de frente quando algo em nossa vida morre. E, sim, uma parte de mim morreu e levou junto todas as razões que me levaram a criá-lo.

De forma alguma isso é uma coisa ruim. Sempre fui movida a tristeza. O rancor, a mágoa,  o medo, o desespero me colocam de frente a qualquer suporte que permita meu desabafo: a escrita. É como se eu não tivesse coragem de expor verbalmente esses sentimentos, mas no papel eles saíssem de forma tão simples quanto o soprar do vento. Em outras palavras: minha inspiração é a minha desgraça. Literalmente.

Não vou dissecar os fatores que me levaram a ser assim, só sei que fui desse jeito por muito tempo. Tempo demais. Além do permitido para qualquer ser saudável. E hoje lembro com pesar do quanto perdi por ser assim.

O que estou vivendo agora é uma fase? Não. É fruto do meu amadurecimento como ser humano. Aprendi com a minha dor, fosse ela sem sentido ou não. Vi meu coração se despedaçar de forma – que pensei ser – irrecuperável. Parei de sonhar. De viver. De querer. De apreciar. Porém, renasci.

A metáfora da fênix é batida e, mesmo assim, nunca foi tão exata. Depois de arder nas chamas do inferno que eu mesma criei para meu sofrimento particular, de chegar a sentir tanta dor a ponto de não sentir nada… Pude me redescobrir. Na verdade, a palavra seria realmente “descobrir”. Porque nunca parei para me conhecer, me amar, me escutar. Sempre me autocondenei sem direito a julgamento. E, bem… Agora as coisas não são mais assim.

Começou com um sopro de esperança em meio ao caos. Como um feixe de luz em meio à mais completa escuridão. E dizia assim: “Você pode ser feliz. Já é hora.” E por mais que eu negasse, que fingisse não ouvir, o sussurro virou diálogo, que se tornou por fim um grito. Impossível não escutar, não ver, não sentir a possibilidade de ser feliz invadindo todos os meus poros; numa sensação inigualável de completude.

Não pude resistir ao apelo. A vida me chamava, ansiava por mim e eu não podia ignorar. Desfiz alguns laços, construí outros, mas de tudo me libertei. Era necessário. E no meio de tudo isso, conheci um lugar compatível com meu estado de espírito nesse momento, que é pura liberdade, puro amor. E encontrei o que muita gente passa a vida procurando: o momento presente. Parei de remoer o passado e conjeturar o futuro, me encontrei naquilo que estou vivendo. E, nos momentos em que vivo encontrei o amor em suas mais variadas formas.

Daí, constatei que melhor do que remoer a vida em palavras e publicá-la na internet é vivê-la. Sem expectativas, dores, ansiedades ou remorsos. Na verdade, todos os momentos que vivo têm sido tão bons – incluindo os ruins, rs – que não quero expô-los. São pequenos tesouros que compõem meu sentimento de “estar-no-mundo”, como já sentiu o poeta. Resolvi por colocar cada preciosidade de momento em lugar reservado somente a essas memórias: um diário. Sim, um diário. Não, eu não tenho 12 anos. Foi minha saída para continuar confessando meus pecados – ou minhas alegrias, no caso – sem tanta exposição. Conseqüentemente, o blog perdeu sua função primordial e chegamos ao ponto onde resolvi escrever esse texto.

Não pretendo abandonar o mundo virtual. Estou com pretensões de criar outro(s) blog(s) com temas específicos: cinema, arte, música, literatura… Todas essas coisas que eu gosto. Sei que existem outros zilhares com tais assuntos, mas gostaria de reunir alguns gostos meus num cantinho só. Portanto, é isso. Não tenho idéia se este será meu último post, mas não pretendo voltar nesses domínios tão cedo. Gostaria de dizer “foi bom enquanto durou”, mas não foi. Foi triste, amargo e doído. Bom mesmo é agora.