CUIDADO, ESTE POST CONTÉM (VÁÁRIOS) SPOILERS SOBRE O FILME!
Este pode ser considerado um filme sobre relacionamentos contemporâneos. Aconselho, a toda boa e má pessoa que viva na esfera terrestre, que esteja em (ou procurando por) um relacionamento a mergulhar em “500 Dias com Ela”. Em especial, porque ele dialoga com os amores que não dão certo, mas que têm potencial. Ou melhor, que pensamos ter.
O filme apresenta pontos de vista opostos sobre o amor que, num determinado momento da vida, se cruzam. Este é, óbvio, o momento retratado no filme. Tom personifica o romantismo clichê, acreditando nas ideias de destino, felizes para sempre e almas gêmeas. Adota mesmo a postura do herói romântico (em sentido literal, do Romantismo do século XVIII) que sofre incondicionalmente por não ter sua amada ou, por perdê-la. Ao mesmo tempo, Summer incorpora uma postura mais crítica e liberal com relação a todo esse idealismo, questionando mesmo a ideia do amor enquanto sentimento. Busca não se envolver, para não magoar a si própria ou aos outros e nunca se apaixonou verdadeiramente. De encontro a todo esse ceticismo, possui ótimo senso de humor e gostos para filmes e musica, além de uma aparência arrebatadora.
Mesmo que, a princípio, ela não buscasse um relacionamento sério e deixe isso claro para ele, o envolvimento dos dois atinge um outro nível. Entretanto, é nesse ponto que o personagem de Tom ilude-se: apesar de realmente ter conseguido confundir os sentimentos de Summer a ponto de fazê-la questionar o “relacionamento aberto, sem rótulos”, ela nunca se apaixonou por ele. O gostar existia, mas era muito mais amizade que qualquer outra coisa.
O rompimento dos dois, então, marcado no início do filme e retomado de acordo com a narrativa dos dias, traz ao herói sofrimento quase insuportável. É nessa fase que ele passa a questionar seus próprios valores, as opiniões dos amigos e até mesmo seu emprego. Ela, contudo, não se mostra confusa ou arrependida.
É o desfecho do filme, porém, que realmente marca uma mudança na visão de mundo de ambos. Tom já (quase) não acredita mais em destino, almas gêmeas e amor eterno, considerando mais o conceito de “coincidência”. Acompanhamos apenas a trajetória dele, mas nesse momento somos capazes de perceber como aquele relacionamento, aparentemente sem valor para Summer, foi crucial para que ela fosse capaz de se abrir e apaixonar-se novamente. Dessa vez, por seu atual marido.
Talvez seja essa a mensagem de “500 Dias com Ela”: é preciso se deixar levar e aprender com cada relacionamento, ainda que o “felizes para sempre” não signifique, necessariamente, juntos para sempre.
Além de tudo isso, as referências musicais são bem bacanas e os efeitos muito interessantes e diferentes. Como quando a tela se divide entre a expectativa de Tom e o que acontece na realidade: você não sabe o que acompanhar (ou o se o que vai acontecer irá corresponder às expectativas dele) até seus respectivos desfechos. O final dessa cena, onde mostra o sentimento dele perante os acontecimentos, é algo inexplicável – muito bonita e bem feita.
Aliás, o filme todo merece ser visto com calma… Olhares, música, tristeza, superação, amor, paixão e descrença. Ver o que estamos vivenciando vale muito a pena.