Bonding

Sempre fui uma pessoa que almejou ter um grupo de amigos. “Fit in”. Encaixar-se entre aqueles que fossem como eu de algum modo. Esperei isso acontecer na escola, no ginásio, no segundo grau (se é que são coisas diferentes) e chegou mesmo a acontecer na universidade. Mas não durou. Na minha vida, esse fato sempre foi vivenciado como uma fase, infelizmente.

Quando minha irmã nasceu, lembro que fiquei muito feliz, por duas razões em particular: – finalmente eu tinha uma irmã (já havia encomendado isso aos meus pais a séculos!) e – teria com quem brincar (meu irmão tinha ficado “grande demais”). Com o tempo, quem acabou ficando grande demais fui eu e uma série de coisas que aconteceram em nossa infância prenunciavam o que acontece agora. Sei que temos coisas (e coisas demais até) em comum, mas o desinteresse dela é tão grande que me dói. Assim, se isso foi uma fase com amigos, é uma constante dentro da minha família.

Não a culpo, foi criada assim. Mas também não a absolvo. E, afinal, quem eu sou para julgar? Porém, sinto falta de uma relação maior de irmandade, de carinho e de proximidade que não, nós não temos. Quando exponho essa ausência de intimidade bem na minha cara, penso e repenso o que fiz de errado, quais passos troquei as pernas achando que estava fazendo o certo. Só que não existe relação unilateral; feita por apenas uma pessoa que procura respostas e soluções. E, sinceramente, eu já desisti de qualquer tentativa. O muro é alto demais, grande demais, intransponível demais para ser escalado.

É estranho estar relacionada pelo sangue a alguém por quem sinto um carinho e afinidade infinitos, mas não sei como me aproximar. Durante muito tempo achei que o problema fosse exclusivamente meu, tosca por natureza, não sabendo percorrer os longos caminhos que pacientemente me levariam a uma amizade verdadeira com aquela que “deveria ser” minha primeira amiga. Depois descarreguei um peso quando vi que não havia necessariamente um interesse com relação a minha companhia; quer dizer, eu sou legal às vezes, sou útil outras vezes e posso ser até engraçada em alguns momentos… Mas não sempre, definitivamente.

Só espero que essa visão possa mudar um dia. Nesse dia, como em todos os outros, estarei disposta a iniciar uma amizade com alguém que (aspas novamente) “deveria ser” muito mais que uma simples conhecida, posto que é minha irmã.

Top 10 “Pequenas Vitórias Dentro de um Estado Depressivo”

Acredito que a expressão “apesar de” combina muito comigo nesse momento. Encontro-me em uma fase depressiva da vida, com direito a dramas, anti-depressivos, terapia e, quiçá, algum porre no meio disso tudo. É tudo meio Amy Winehouse, I know, mas sem aquele exagero todo e as “dorgas”. Passados os primeiros sufocos, posso dizer que tenho vivido através de pequenas vitórias cotidianas, que aos outros soam como baboseira mimimi de quem não tem mais o que fazer. Pois é, eu realmente não tenho mais o que fazer. Por isso – e por vários outros motivos – entrei em depressão.

Como já faz alguns anos que não escrevo um “top 10” e não ando muito inspirada esses dias, decidi listar para vocês o que, na minha vidinha, têm sido exatamente essas vitórias que andam me permitindo, com o perdão do trocadilho, me fazer caminhar.

10 – A pílula da felicidade: concordo totalmente com Lolla quando ela diz que as pessoas, hoje em dia, não são obrigadas a serem infelizes. Realmente, o advento dos anti-depressivos, anti-ansiolíticos e anti-seilámaisoquê deu a oportunidade de colorir o mundo de muitas pessoas que antes o viam naquela sem graça escala de cinza. Não sou a favor da dependência desses remédios mas, se a pessoa não dá conta sozinha, pode muito bem fazer uso desse artifício.

Porém, o anti-depressivo em si nem é a vitória para mim, mas toda uma mudança na visão de mundo. Aceitar que preciso de um remédio quando ando tomando um cossa da vida do meu infeliz cérebro é uma vitória.

9 – Conseguir espairecer – Enquanto antes eu não conseguia tirar ideias fixas da cabeça, hoje consigo, com algumas atividades, me distrair como uma pessoa comum. Parece fácil, mas exige um esforço enorme. Dependendo da atividade ainda não consigo relaxar e, no final, estou totalmente ansiosa e frustrada (Haha! Agora eu sei de onde meu cachorro tirou sua ansiedade)… Mas será que apenas tentar conta?

8 – Tentar parar de planejar o futuro – Tudo bem, também ainda é apenas uma tentativa. Enquanto estou aqui, minha cabeça já está planejando o que estarei fazendo daqui 8 anos… E ela não aceita nada menos do que o esperado, o que pode ser very frustrante, às vezes. Assim, começo a tentar puxar o freio desse cérebro que sempre viveu a muitos quilômetros por hora, mesmo que no início tudo seja bem sutil.

7 – Eu ainda tenho certa vaidade – Não me joguei TOTALMENTE às traças. Só um bocado, rs. Ainda possuo certas vaidades básicas, que podem aumentar em virtude de algum acontecimento. Em outras palavras: não vou sair de pijamas por aí como se vê nesses filmes de comédia romântica. Até porque, nesse momento minha vida não é nem comédia nem romance… Está mais para um filme noir ou francês daqueles beeem depressivos em que você sai do cinema sem entender direito porque foi assistir e o que aconteceu. Só quer chegar em casa e ficar debaixo das cobertas, alternando entre dormir e beber por um tempo.

6 – Descobri que posso repensar minhas prioridades – Ainda estou me acostumando com essa possibilidade, apesar dela ser tentadora. Descobri que, ao formar e não conseguir um emprego de cara, meu mundo não necessariamente acabou. Existem outras vidas após esse período obscuro! Posso simplesmente ser o que quiser! Se quiser fazer outro curso, voilá! Fazer uma pós, aqui estou tentando… Tentar um mestrado quase impossível, vamos lá! Mudar de ramo e dar aula para crianças, quem me impede, a não ser eu mesma?

5 – Consegui iniciar meus trabalhos da pós-graduação – Isso sim, eu chamo de vitória! Depois de quase dois meses com uma sensação persistente de impotência, incompetência e “otras cositas más” consegui iniciar meus trabalhos. Oito no total… Agora faltam apenas 6!

4 – Cada ida ao Yôga é um suspiro na semana – Ainda não voltei a dançar, mas alguns exercícios de yôga são parte dos alongamentos que eu fazia quando fiz dança.  E o yôga tem sido um suspiro profundo, realmente! Poder parar de pensar um pouco, sair desse ciclo, me dedicar exclusivamente àqueles exercícios e à concentração durante uma hora… É perfeito.

3 – Aceitar que preciso de tratamento – Sempre soube que era diferente. Mas sempre achei que, no fundo, o slogan “ser diferente é normal” estava certo. Só que eu estava errada. Não preciso aceitar tratamento para ser como os outros, mas preciso aceitar que existem uma série de coisas em mim que eu mesma desconheço, que eu mesma não sei porque ocorrem… É isso que me faz ser diferente; saber das peculiaridades e querer saber a razão disso. O tratamento é apenas uma forma de chegar perto de uma explicação.

2 – Conseguir levantar da cama todos os dias – O mais difícil e mecânico de todos os atos. Não penso, simplesmente faço, porque se fico na cama mais de 5 minutos acordada, não vou querer levantar. Às vezes é preciso simplesmente não pensar tanto e apenas agir para que as coisas funcionem.

1 – Receber ajuda profissional – De todas as coisas, essa sempre foi contra a qual mais lutei. Penso até que o slogan “faça o que eu digo mas não o que eu faço” caberia bem, uma vez que sempre indiquei terapia para os outros como um ótimo meio de resolver problemas. Mas nunca me vi fazendo ou, mesmo quando fiz, há muitos anos atrás, não estava preparada para realmente me lançar em um processo de auto-conhecimento como estou nesse momento. As sessões foram poucas, ainda não posso avaliar com exatidão e, na verdade, ainda estou em dúvida com relação ao “tipo de tratamento” (não sei o termo correto) que quero seguir (estou muito tentada à análise), mas aceito o início da terapia em si como uma vitória. Grande, por sinal.

Zero – Não mandar o mundo à merda – Porque, quando você está nessa situação já nada favorável, ninguém adota a postura mais acertada: ouvir. Todo mundo tem um remédio, conselho, dica, receita infalível que algum conhecido passou pela “mesma” situação e conseguiu sair dessa de cabeça erguida. Além de depressão ainda tem que exercitar uma paciência de Jó (que geralmente não existe, mas a inércia está aí pra isso) em nome da boa convivência. Duas coisas:

1ª) Não, não é a mesma coisa. Nunca é. Falar pelos cotovelos na cabeça de uma pessoa depressiva nada mais é que encher o saco dela. Seus zilhões de palavras, assim como os zilhões de palavras que outras pessoas despejaram no ouvido dela não resolverão milagrosamente os problemas…

2ª) Quem perguntou alguma coisa?

No mais, boa noite.

Amigos?

Eu realmente acreditei, dessa vez, na frase “vamos continuar amigos”. Porque não há razões para inimizades ou rancores. E, confesso, tenho sentido falta do tamanho do mundo da sua amizade, porque ela me sustentava. Era meu apoio no mundo, quando todos os outros se afastaram.

Eu já desisti dessa história de “fazer amigos”. Os que eu fiz ou não falam mais comigo, ou falam raramente – afastamento por parte minha, deles ou ambas -, ou falam simplesmente quando precisam. Acho que não nasci para essa coisa de amizades. Porque, ou me doo demais ou ligo o foda-se. E quando acho o meio-termo já está tudo tão ferrado que nem adianta mais… Mas você sabe disso.

Uma tristeza e solidão que não tem fim moram em mim nesse momento. E não tenho a quem recorrer. Antes, eu pediria socorro a você mas, como fazer isso agora, se a situação te envolve diretamente? Não me sinto digna de reiniciar um contato, a culpa ainda não sumiu, por mais que você diga “não há razão para culpa”.

Eu choro e a agonia não passa. Eu falo sozinha e a solidão não vai embora. Eu respiro e a sensação é de afogamento. “E agora, José?”

Como recomeçar? E, melhor, recomeçar o quê? De onde?

Só enxergo a tristeza e a ansiedade, por mais que o tempo passado tenha tido momentos felizes e tanta coisa boa. Ninguém nunca me entendeu como você, ninguém nunca me ouviu como você, ninguém nunca me fez sentir única como você fez. Será que o tempo apaga essas coisas? Ou a gente aprende a lidar com tudo?

Não tenho essas respostas, nem tantas outras… A única resposta que eu gostaria, mesmo, é saber se vamos continuar amigos, de verdade.